sábado, 9 de janeiro de 2016

Diferenças entre os mercados brasileiro e o americano de mangás

Nestes últimos meses tive muito contato com o mercado americano de mangás graças a minha viagem ao Estados Unidos, com isso aprendi bastante sobre como ele funciona. Volta e meia eu abordo este assunto no Twitter, mas nunca fiz um texto completo sobre o assunto, portanto este será, digamos, o texto definitivo. Existem muitas diferenças nos dois mercados, a maioria delas deixando os Estados Unidos em vantagem em relação ao Brasil. No entanto, as diferenças que mais me incomodam, que considero um defeito no mercado brasileiro, é a insistência em vender em bancas e o fato de não haver reimpressão de mangás quase nunca. Uma série de problemas são derivados deste dois, por isso irei focar mais neles.

É notável que o sistema de bancas é falho e tem muitos problemas, principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Há apenas uma distribuidora que atua nas bancas fazendo com que todo o sistema, e as editoras, fiquem a mercê dela. Desta forma, sempre ouvimos falar que mangá tal não chegou em cidade tal, ou chega com atrasos inviáveis. As editoras não podem fazer muita coisa quanto a isso, já que a distribuidora, além de mangás, distribui tudo que é comercializado em bancas e tem seu próprio jeito de fazer as coisas, as editoras gostando ou não. Além disso, bancas tem espaço limitado e geralmente só possuem a edição mais recente do mangá, ou seja, caso você tenha perdido uma edição você terá duas escolhas: procurar uma comic shop, que são raras, mas existem, ou pedir ao jornaleiro para pedir na distribuidora, se você é amigo de um jornaleiro, é uma opção, mas ainda há o risco de não encontrar a edição. Isso faz com que os leitores pensem duas vezes antes de comprar uma série que já está em andamento, e com razão. Por isso, sempre defendi a venda de mangás em livrarias e, quando possível, comic shops. No Estados Unidos é desta forma, geralmente as livrarias tem um bom acervo de mangás de todas as editoras, sem falar na Amazon e outras lojas online que possuem qualquer edição que você queira, de qualquer mangá, é muito difícil não encontrar o que você quer. Recentemente, a Barnes & Noble, a maior rede de livrarias físicas dos Estados Unidos expandiu a seção de mangás em todas as suas lojas, quando vi as fotos desejei muito que algo assim acontecesse no Brasil. No entanto, no Brasil quase não se vê mangás em livrarias, salvo raras exceções; já visitei as maiores livrarias do Rio de Janeiro e apenas a Livraria Cultura no Centro da cidade tem mangás em quantidade satisfatória, mas ainda assim não chega perto de algo parecido com a foto abaixo, por exemplo. A Amazon Brasil também não consegue resultados melhores, é mais fácil achar mangás em inglês lá do que em português, é frustrante. Livrarias têm a capacidade de manter em estoque coleções completas e poupar os leitores da falta de volumes, ou compra com preços absurdos, então porque não?


O problema de não haver reimpressões quase sempre está ligado a este problema, já que as bancas, principal local de venda de mangás, não mantém todas as edições, portanto reimpressões não fazem muito sentido já que elas não irão para a banca, a nãos ser em casos excepcionais. Até as poucas comic shops que existem sofrem com isso, seus estoques acabam e não há como repor. A alternativa que sobra para os leitores neste caso é procurar em eventos ou procurar em outros lugares, geralmente com preço acima do de capa. Se as editoras reimprimissem as edições sempre que necessário, a série estaria sempre disponível, isto é vantajoso para os leitores e para as editoras. Sem reimpressão, não há quase adição de novos leitores durante a publicação da série porque raramente se encontra o primeiro de qualquer série depois de alguns meses. Com a reimpressão, novos leitores sempre apareceriam e ainda resolveria o problema de leitores que não têm condições de comprar o mangá no momento do lançamento, mas que no futuro poderiam comprar. Muita gente reclama que há muitas séries no mercado e que as editoras deveriam diminuir o número, isto é fruto de falta de reimpressão. Os leitores precisam comprar todas as edições de todas as séries que queiram assim que saem, religiosamente, do contrário correm o risco de ficarem com a coleção incompleta. Nos Estados Unidos, e também no Japão, é diferente, sempre há reimpressão das edições, quando necessário, assim fica muito mais fácil de planejar o que você irá comprar, colecionar fica muito mais fácil. 

Eu particularmente sou bastante resistente a "edições especiais" de mangás que já foram lançados no Brasil, os famosos relançamentos. Devo dizer que nos Estados Unidos também fazem relançamentos, mas geralmente são de mangá antigos e geralmente grandes, fazendo edições 2-em-1 ou 3-em-1, que, aliás, são bastantes econômicas. Muitas edições especiais e relançamentos seriam evitadas com reimpressão. Por exemplo, o relançamento de Bleach é constantemente pedido, neste uma nova edição 3-em-1 seria uma boa já que a série é muito grande. Tirando séries grandes, uma reimpressão resolveria o problema. Relançamento somente em casos muito especiais,  de preferência muito tempo depois do final da sua primeira publicação. 

Na minha opinião, estas três diferenças são cruciais e se o mercado brasileiro seguisse o exemplo do mercado americano, eu creio que tudo seria mais simples para os leitores brasileiros e ajudaria o mercado a crescer ainda mais. Apesar de existir outros problemas que poderia comentar, vou terminar por aqui. Quem sabe no futuro volto a este assunto abordando outras diferenças. Também pretendo fazer reviews de obras que estou comprando aqui, apontarei diferenças nestes posts também. Fiquem ligados, sempre falarei dos mercados brasileiro, americano e japonês por aqui. Até a próxima!

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