sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Review: Nisekoi

Série de comédia romântica de autoria de Komi Naoshi, publicada na Shonen Jump desde Novembro de 2011, Nisekoi termina uma longa, mas não cansativa, jornada, quase cinco anos após o seu início, com uma trajetória de sucesso, com dois duas temporadas de anime, várias OVAs e diversos produtos, de databooks a figures. Para muitos o sucesso de uma série tão clichê e previsível ainda é um mistério, mas eu considero a razão para isto muito simples. Quem me conhece sabe que eu amo esta série e que este texto será mais uma carta de amor a série do que um review, mas leiam até o final por favor. XD


A série começou em Novembro de 2011, mas só fui tomar conhecimento dela em Dezembro daquele ano. No momento eu não lembro se li a oneshot primeiro ou já fui para a série, mas ambas as coisas aconteceram quase ao mesmo tempo. Eu amei a série desde o início, mas até aquele momento eu só lia sem compromisso. Acho que esse sentimento durou até eu perceber que não conseguia mais esperar pelas scans em português, que demoravam, e passei a tentar ler em inglês. Nisekoi foi uma das primeiras séries que li em inglês e posso dar crédito a série parte da minha vontade de querer melhorar meu inglês. Também foi a partir de Nisekoi que passei a acompanhar a Shonen Jump com mais interesse, descobri o sistema de ranking da Jump e os TOCs (Table of Contents), coisa que eu esperava toda semana para ver onde Nisekoi estava e se ele estava seguro de cancelamento, o primeiro ano da série foi tensão o tempo inteiro devido a isso. Eu gostava cada vez mais de série e o pensamento de que ela fosse cancelada era insuportável. Veio o primeiro aniversário da série, o primeiro de muitos.

Em 2014, após a VIZ lançar a versão digital por mais de um ano, chega aos Estados Unidos a edição física do mangá. Juntei todas minhas economias como adolescente que não trabalha para comprar e até hoje nunca perdi uma data de lançamento. No Brasil o mangá chegará somente após o seu término evidenciando mais uma vez que as editoras brasileiras tem um péssimo timing para lançar qualquer coisa no território brasileiro. É evidente, e não poderia deixar de ser diferente, que a série saiu do seu auge e popularidade após mais deu ano desde a transmissão da segunda temporada do anime. Apesar de tudo é um momento feliz para fãs que esperaram e até fizeram campanha para a série vir para o Brasil.

Passei grandes momentos com a série durante todos esses anos, sempre me proporcionando momentos emocionantes e engraçados a cada semana, nenhum capítulo foi desperdiçado na minha opinião, todos eles tiveram um significado par tornar a série o que foi e para influenciar no impacto que o final causou. Porém vou falar mais sobre isto no review.

Review

Nisekoi é uma comédia romântica clichê. Seu objetivo não era ser original, como, na minha opinião, ficou claro desde o início. Não considero isto algo negativo, muitos outras séries de outros gêneros seguem a mesma receita e são tão interessantes ou mais do que obras "originais", que nada mais fazem do que aplicar ideias por vezes estranhas que acabam caindo no gosto de algumas pessoas. O que torna um mangá baseado em clichês interessante são os detalhes, muitas das vezes as personagens e como eles agem e interagem entre sim. Este é o ponto que eu valorizo mais nessa série: os relacionamentos e como eles se desenvolvem.

A cast de Nisekoi é relativamente pequena, dá para contar nos dedos das duas mãos o número de personagens que participam da história com frequência, o núcleo. Isto é uma das características da série que mais valorizo porque assim eu tenho a capacidade de conhecer cada personagem no íntimo e formular teorias a partir disso, prevendo como cada um irá se comportar em determinadas situações. A série era muito boa para fazer isso, toda semana eu passava um bom tempo analisando o que tinha acontecido e pensava eu possíveis atos futuros. Eu conhecia cada um deles como se fossem meus amigos e isto me fez me apegar a série como em nenhuma outra série. Mas se fosse assim tão simples eu em afeiçoaria por qualquer série com poucos personagens, certo? Sim. O diferencial de Nisekoi são que os personagens são extremamente carismáticos, todos eles, sem exceção, eu torci por cada um deles em algum momento da história apesar de ter meus favoritos. A sinergia entre eles também é bastante interessante, todas foram muito bem desenvolvidas, você sabe claramente o relacionamento de cada personagem com qualquer um dos outros, o que eles pensam uns dos outros, etc. Por isso, creio que vale a pena eu fazer um pequeno resumo da cast principal, para definir de uma vez por todas o que eu acho de cada um.

Raku é o protagonista de história e também o mais fácil de entender por ser o protagonista padrão de mangás harem, aquele garoto normal que de repente atrai a atenção de beldades a sua volta sem se dar conta disso. Apesar de ele não fazer nada de impressionante durante a série, ele tem seus momentos e estes fazem você gostar dele e torcer para que ele consiga logo se dar conta das garotas apaixonadas por ele e, claro, que ele escolha a sua favorita no final.

Chitoge foi na história inteira a garota principal e a que conseguiu o coração do Raku no final. Nisekoi, que significa "Falso Amor", é simplesmente a história da Chitoge se desenvolvendo como pessoa e também no amor, conquistando assim o Raku após começar um namoro falso com ele por obrigação de sua família, mas acabar se apaixonando. Não há como negar que a série faz isso muito bem, de forma natural e fluida. A Chitoge se desenvolve de uma garota que odiava o Raku e que era destrambelhada em qualquer tipo de relação para uma garota que conquistou o amor de sua vida de uma forma épica e que conseguiu fazer vários amigos. Como se não bastasse, no final Chitoge também percebeu o que queria fazer da vida, coisa que ela não fazia ideia durante a série. Foi um pequeno sub-plot que foi bom de ter sido lembrado pelo autor e ter sido resolvido.

Kosaki Onodera foi que a chegou mais perto de roubar o Raku da Chitoge. Muitos dizem que era muito previsível que ela perderia, mas eu concordo, em parte. Embora a Chitoge era a garota principal e que a história girava em torna dela e de seu desenvolvimento, não pareceu, em muitos momentos, que ela venceria. Em muitos momentos eu duvidei de que ela ganharia, a Kosaki teve muitos momentos de impacto, sem no entanto tem uma posição ativa em nenhum deles. Este era o maior problema que eu tinha com ela, a sua falta de atividade, ela era apática. Eu cheguei a torcer por ela no início, quando ela tentou pela primeiríssima vez se confessar para o Raku e foi interrompida, naquele momento eu vi uma ação dela. No restante da série, no entanto, todos os momentos que ela conseguiu com o Raku não foi com o seu próprio esforço, foi com muita ajuda de outros personagens como a Ruri e sua irmão, Haru. Não há dúvidas de que ela era fofa e muitas pessoas gostam do tipo inocente como ela (embora a Chitoge seja tão inocente e pura quanto ela), mas eu valorizo muito o esforço da garota para buscar o amor. Nesse quesito a Chitoge também não foi campeã.

Marika foi a grande campeã no quesito esforço. Ela fez de tudo para conquistar o Raku, o que trouxe muitos fãs para ela, assim como pessoas que não gostavam de sua atitude. Para mim, se ela tivesse ganhado o coração do Raku, eu estaria satisfeito, de verdade, mesmo sendo grande fã e ter torcido pela Chitoge todo o mangá porque simplesmente eu gosto de garotas que se esforçam para ganhar no amor. Ela não só fez tudo para conquistar o amor do Raku, mas também, após perder ele, ela teve um grande papel nos capítulos finais do mangá, ajudando sua maior rival, a Chitoge, que deve muito a ela. Podemos dizer que se fosse a Marika e seu "tapa na cara" da Chitoge para ela acordar para a vida, ela não teria voltado e o Raku não a teria encontrado tão facilmente. Foi realmente uma personagem que ajudou em todas as frontes dentro do mangá, depois da Chitoge e a personagem que mais gosto.

Tsugumi era a grande escudeira da Chitoge e se destacava exatamente por isso, pela lealdade implacável que ela tinha pela Chitoge e também pelos amigos,  coisa que ela aprendeu a ter com a ajuda de todos, principalmente do Raku. Acho que depois da Chitoge, foi que teve o maio desenvolvimento da história. Se vendo a Tsugumi no início, que se vestia de homem e parecia completamente um homem, que negava sua sexualidade e a considerava uma fraqueza, e me dissessem que ela viraria modelo, eu não acreditaria, era inconcebível. Porém, após o convívio que ela teve com todos, aprendendo sobre a vida de uma garota normal, ela aprendeu a se soltar mais e a ser uma garota como qualquer outra, mas ainda sendo monstruosamente forte (Paula que o diga. XD). Sua lealdade à Chitoge continuou a mesma, mas ela construiu a lealdade a seus amigos o seu lado garota durante a história de uma forma bastante interessante e natural. Isso tudo, é claro, culminou no amor dela pelo Raku e por fim, na "confissão" dela para ela. A confissão dela para ele foi a melhor confissão, tirando a do Raku para a Chitoge, foi perfeita, não há como negar. Foi a forma perfeita que ela encontrou de se confessar e tirar o peso que ela sentia, sem atrapalhar a Chitoge, que era o grande conflito dela como personagem: a sua lealdade versus o seu amor pelo Raku. Grande personagem com um grande final.

Yui foi a última que foi introduzida no harem sendo a que teve menos tempo de desenvolvimento, mas isso não quer dizer que o desenvolvimento foi ruim, pelo contrário. Yui colocou um pouco de maturidade no harem e um pouco de estratégia, mas apesar da Chitoge ter começado a sentir a Yui como uma rival, eu acho que a Yui nunca teve a pretensão de ficar com o Raku porque ela já sabia que não era ela que o Raku amava. Eu acho que desde o início o objetivo dela é criar questões na cabeça do Raku e empurrá-lo a uma decisão porque era óbvio para todo mundo, menos ele, que ele tinha um conflito interno entre a Chitoge e a Kosaki. Ela cumpriu este papel com perfeição, mas sem deixar de lutar um pouquinho, se confessando e sendo rejeitada, como esperado.

Ruri & Shuu foram simplesmente os melhores personagens coadjuvantes que já tive o prazer de ler, com histórias tão interessantes quanto os protagonistas. A Ruri era uma personagem que eu me identificava muito pelo jeito quieto dela e por vezes mal compreendido, sendo taxada como difícil de se aproximar. Ela, no entanto, foi cabeça de muitas das oportunidades que a Kosaki teve para se confessar ao Raku. O seu sonho de ser tradutora e de se dedicar com afinco a isto também foi bastante interessante, além daquele arco memorável com o avó dela, que foi curto, mas impactante. Era realmente uma personagem muito mais humana do que aparentava e, provavelmente, a única unanimidade da série, todos gostavam. O Shuu também era uma unanimidade, ele era, acima de tudo, engraçado, com todas as piadas que ele fazia, principalmente em conjunto com a Ruri. Porém, ele também tinha um lado profundo, um lado mais adulto do que se pensava, que foi introduzido quando foi revelado que ele era apaixonado pela sua professora. Aquele arco, tanto quanto o arco do avô da Ruri, foi curto, mas muito impactante. Foi esse lado adulto que fez com que a Ruri notasse o Shuu, passasse a respeitá-lo mais e, por fim, se apaixonar por ele. Eles formaram um grande casal que no início não pareciam ter nada em comum, mas que no final teve um final surpreendente.

E estes são os personagens principais da série, mas também gostaria de dar algumas menções honrosas. Haru, a irmã da Kosaki, era muito melhor que ela como personagem e não teria problema em torcer por ela se ela realmente tivesse alguma chance no harem. Infelizmente ela desistiu do Raku pela irmã, mas ela teve momentos muito bons durante a série e seu final foi bastante inspirador. Hana, a mãe da Chitoge, somente teve um arco para se mostrar, mas aquele arco foi um vendaval, a Hana é um vendaval. Personagem extremamente interessante e carismática, com todo o seu poder sobre sua empresa, mas totalmente destrambelhada em relação a filha, o que rendeu momentos de drama e risada.

Agora, finalmente, vamos falar de outros quesitos do mangá além da cast, começando pela história. Como já dito antes, Nisekoi não tem uma história muito original e nunca se propôs a ser e funciona, portanto, não vejo esta característica da obra como um defeito. Eu realmente não tenho muito para falar da história em si além do que eu já falei quando falei dos personagens porque eles são a pedra fundamental da história e que faz Nisekoi único apesar de base clichê. O que é mais interessante quanto a história, e creio que seja a parte que quase mais polêmica, é o tamanho dela. Nisekoi durou 229 capítulos, que, sinceramente, quem conhece mangá de romance sabe que está bem na média, muitos duram isso mesmo e utilizam bem essa quantidade de capítulos, sendo Nisekoi não muito diferente. A essência de Nisekoi é a história de um casal que começa a namorar de forma forçada e vão se apaixonando com o passar do tempo e, claro, isso demanda tempo. Parece bem óbvio, mas muita gente acha mais da metade da história irrelevante e acha que poderia ter durado menos de 100 capítulos. Na minha opinião, um amor desde, que vai do quase ódio até amor verdadeiro precisa de tempo para se desenvolver, a cada passo, durante as ações maid corriqueiras. Komi Naoshi utilizou-se magistralmente do gênero "school life" do mangá para desenvolver o amor entre a Chitoge e o Raku durante os três anos de colegial deles, colocando-os nas mais diversas situações, situações que deixam eles mais próximos ou até os distanciaram. Este era o objetivo principal da série. A famigerada promessa, que foi origem da história, acabou sendo só um tempero para colocar mais suspense na história e passar uma mensagem: o amor muda e se transforma durante o tempo, ele fez a promessa com a Kosaki, mas acabou ficando com a Chitoge depois de tudo que ele experienciou com ela durante quase 3 anos. O Raku chegou a dizer várias vezes que ele não mudaria de opinião e que ficaria com aquela com quem ele fez a promessa, seja ela quem fosse, seria natural mudar de ideia se o amor dele pela Chitoge force forçado a abrupto e não evoluído e maturado durante tantas experiências como foi? Eu mesmo não aceitaria isso porque seria incoerente. Todos esses capítulos foram necessários para embasar a mudança no coração do Raku e o Komi Naoshi deixa isso claro ao relembrar várias cenas importantes entre ele e a Chitoge nos últimos capítulos da série. Portanto, a série durou o que tinha que durar, Komi Naoshi fez muito bem em continuar nesse caminho, não apressar as coisas, e terminar no momento certo.

Era óbvio que ele ficaria com a Chitoge? Era sim, não há como negar, apesar de que o Komi Naoshi fez um bom trabalho me manter as esperanças de todos, principalmente de quem torcia pela Kosaki, até o final. Como já dito, o principal plot da história era o desenvolvimento do amor entre o Raku e a Chitoge e isto deveria culminar neles ficando juntos. Mesmo eu confiando nisto, teve momentos em que eu pensei que o Raku escolheria a Kosaki, como no arco em que eles ficaram juntos no Natal e até mesmo no final do mangá quando a Chitoge fugiu para que eles ficarem juntos após um mal-entendido. Eu realmente pensei que estava perdido naquele momento porque eu nunca pensei que o Raku abriria os olhos. Mesmo com essa perspectiva quase clara, Komi Naoshi conseguiu manter o interesse do leitor: para quem tinha certeza inabalável de que ele ficaria com a Chitoge, foi interessante ver como isso se daria e para quem não estava tão convencido, teve vários momentos em que os ventos não sopraram para a Chitoge, o que manteve o interesse desses leitores também.


O fator comédia é o último item que gostaria comentar, algo que acho que ajudou bastante a tornar a história sempre boa toda semana, sendo uma história gostosa de ler toda semana. A comédia de Nisekoi confiava muito em expressões, era cada expressão engraçada que é impossível escolher a melhor, o Komi Naoshi tinha talento tanto para fazer desenho extremamente detalhados e bonitos, como para desenhar expressões faciais, que juntamente com a situação em que eram colocadas, nos fazia rir de se acabar.

Com isso, na minha opinião, como comédia romântica Nisekoi foi bem sucedido em ambos os lados dentro de todas as limitações de uma história que não buscou inovar em nada e se focou em construir personagens carismáticos e que todo mundo consegue apontar ao menos um favorito dependendo de seus gostos pessoais. Para mim, é sempre será meu mangá favorito, aquele que eu vou pegar na estante quando eu quiser ler algo refrescante e engraçado. Vai deixar saudade, mas fiquei feliz com o final e é isso que importa e esperarei a nova obra do Komi Naoshi com ansiedade, é um dos poucos autores que eu sou fã de carteirinha.